Sábado à tarde recebemos uma ligação da Dona Tereza. Uma senhora idosa que mora sozinha num apartamento popular na região central de São Paulo. Foi das mãos enrugadas e trêmulas dessa mulher que recebemos há exato um ano nosso gato mais precioso e cativante, o Gardel. Coincidência triste ela ter feito contato um dia após a adoção dele acontecer.
Por que triste?
O diálogo abaixo foi
gravado agora à tarde por um voluntário do projeto que foi investigar a
veracidade da situação:
Voluntário Bicho Brother: Dona Tereza, como é fisicamente esse homem que ataca os gatos na
vizinhança?
Dona
Tereza: É
moreno, baixo, anda sempre de bermuda, cabelo liso, escuro...
Voluntário
Bicho Brother: Ele faz isso sozinho?
Dona
Tereza: Eu não sei, eu não sei. Tenho medo deles. Se eles sabem que
o senhor está aqui... Eu tenho medo deles.
Voluntário Bicho Brother: A senhora presenciou algum ataque?
Dona
Tereza: Só ouço. Tenho medo de sair de casa. É aqui embaixo, tem
gente que grita: -- Solta o gato, solta o gato! -- mas eles não soltam.
Voluntário
Bicho Brother: E o que acontece?
Dona
Tereza: Muito barulho, o gato grita muito, as crianças também.
Depois fica um silêncio, às vezes escuto o choro de alguém que devia conhecer o
bichinho, o dono, uma criança que gostava...
Voluntário
Bicho Brother: E por que a senhora não chama a Polícia?
Dona
Tereza: Eu chamo, mas não sei falar... Eles não vem.
(No domingo registramos
uma ocorrência por telefone no 190. Seguimos para o local e encontramos
policiais dando ronda na rua indicada)
Voluntário Bicho Brother: Dona Tereza, é preciso
dizer assim quando for atendida pela Emergência da Polícia Militar 190: --
Policial, boa tarde. Quero registar uma ocorrência. Há pessoas aqui na rua tal,
em frente ao número tal, que estão batendo com pedaços de paus num gato manso.
Tem mulheres e crianças pedindo socorro, pedindo para parar, mas eles não
param. Eles estão vestindo roupas tais e são em número de tantos. São brancos,
pretos ou miscigenados, e fazem isso sempre e estão fazendo agora. Por favor,
peço que encaminhem uma viatura para cá o quanto antes!
Dona Tereza: Não sei falar como o
senhor, não vou lá ver de medo. Prefiro ligar para o senhor. Tenho medo...
Andamos pela rua em que
mora Dona Tereza e adjacências. Na tarde chuvosa não vimos nada, nem gatos, nem
possíveis agressores. Uma serralheria, um bar, um ambulante. Ninguém sabe ou
viu qualquer coisa. Cartões foram deixados e uma pessoa olhou de maneira
interessante para o céu carregado de nuvens: -- Se eu souber de alguma coisa te
ligo.
É por isso que o seminário
da OAB-SP sobre direitos e proteção felina foi tão criticado. Se protetores não
aprenderem a investigar e utilizar os dispositivos policiais e legais, nada
muda.
Ao não abordar situações práticas como essa, um seminário, curso, palestra, entrevista etc, não toca fundo na questão da proteção.
Ao não abordar situações práticas como essa, um seminário, curso, palestra, entrevista etc, não toca fundo na questão da proteção.
1 comentários:
No caso acima a visita foi num dia chuvoso onde nada aconteceu, mas porque não foram feitas novas visitas e continuadas ligações ao 190 até prenderem o marginal que está judiando dos nossos anjinhos? Fico muito triste e revoltado ao saber de situações de maus tratos como essa. Infelizmente nem sempre o pronto atendimento dos órgãos competentes e a devida e pronta solução ocorrem.
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